JUVENIL TOMÁS
OS DIAMANTES AZUIS
VOLUME I
PLANETA LUZ
ÍNDICE
Introdução.............................................
Episódio I – A Primeira Missão ..........
Episódio II – Planeta Luz .....................
Episódio III – Missão Gaia ...................
INTRODUÇÃO
Caríssimos (as),
Tudo começou com o desejo de aprofundar as
reflexões sobre o polêmico e intrigante tema da vida e sua continuidade após a
morte terrena. Muitos pensamentos que passavam pela minha mente,
conscientemente, ou mesmo em sonhos.
Clotildes Maria de Melo, era uma
mulher simples, porém de grande fé e força espiritual. Após seu falecimento
comecei a sentir a necessidade de um maior aprofundamento espiritual, entender
melhor e aceitar melhor as passagens da vida, nascimento, crescimento, morte e
renascimento.
Estanislau, o Tio Lau, era um
homem alegre, brincalhão, bom jogador de truco, não era muito religioso, mas
cultivava uma espiritualidade bastante acentuada.
Desejo falar também de Isabela, minha
sobrinha, menina religiosa, persistente, que teve sua vida tolhida aos 14 anos.
Eu poderia escrever um livro somente sobre este fato, pois foi extremamente
dramático. Isabela foi sequestrada nas imediações do colégio onde estudava e
assassinada. Porém antes de tudo ser esclarecido passaram-se 40 dias, nos quais
ela ficou desaparecida e só depois disso seu corpo foi encontrado em um matagal.
Poderia falar do desespero e da grande angústia da família, os sobressaltos, a
terrível descoberta.
Mas não vou falar muito disso, essa é a
parte triste que já passou, este livro é sobre a vida, a vida que transcende a
morte como a conhecemos. Este livro é sobre a grande vida, a vida maior, a vida
que supera todos os obstáculos, todos os sofrimentos todas as decepções, a vida
que nos leva a crescer como seres imortais e eternos. É um livro sobre
esperança, vitória e paz.
Flor é a avó materna de Isabela, já vivia
doente e praticamente sedada há algum tempo, alternava momentos de consciência
e inconsciência (Idas e vindas). Resolveu partir poucos dias após a partida de
Isabela.
E Tobias? Tobias é baseado em alguns
sonhos que tive. Mas sabem aqueles sonhos que parecem muito mais que sonhos,
que são tão marcantes que algum tempo depois se confundem com a realidade? Pois
é, foi assim, claro que os complementei ao escrever, mas procurei ser fiel à
mensagem que transmitiam.
Luz para todos!
Juvenil Tomás
PREFÁCIO
Por: Benedito
Pereira da Costa - Pioneiro de Brasília
Bacharel em administração de
empresas e pós-graduado em MBA Marketing,
talentoso, profícuo e comprometido com a arte de escrever, o confrade Juvenil
Tomás honra-me com o pedido para prefaciar o seu livro Os Diamantes Azuis - Volume I -
Planeta Luz, 2ª edição.
Dizem que a vida começa aos 40 anos. Desse modo, a sua transmite a impressão de
que se iniciou a menos de duas décadas. O autor tem, portanto, estrada longa
por caminhar, que, seguramente, com habilidade e perseverança, há de transpor
com êxito pleno.
Entre outras atividades, passa
boa parte do tempo escrevendo: há mais de 10 anos que se dedica a essa maravilhosa
tarefa.
Natural de Piunhy (MG), reside em
Brasília há 42 anos e pode ser considerado quase pioneiro da cidade, à qual
brindou com os seguintes exemplares, todos campeões de leitura e de vendagem:
●
2012 Os
Diamantes Azuis (Volume I): Planeta Luz, 1ª edição, e A Lei Universal da Atração;
● 2013 Os Diamantes Azuis (Volume II):
O Resgate;
● 2015
Somos Todos Magos;
● 2015 Indiguinho – O Menino Azul.
Recentemente
participei de seminário em que palestrante, de renome internacional, procurou
mostrar quanto valioso é cuidar do próprio ser. Frisou que as cirurgias
plásticas não fazem milagres por si sós:
beleza e forma perfeita podem vir também do espírito.
Juvenil
possui rara capacidade de convencimento, e todo o compêndio tem esse mister
como objetivo. A cultura do espírito é
tônica dos escritos. Não faz muito, assim me dirigi a ele (por ocasião de outro
lançamento e vendagem respectiva):
Prezado Juvenil: na TV, assisti,
ontem, às 21h, às explicações sobre o livro magnífico A Lei
Universal da Atração. Conversa simples, agradável e entusiasmante.
Gostei da apresentação, do começo ao fim.
A
linha é essa. Você está certo. Tudo podemos, desde que acreditemos firmemente
na possibilidade de realização. Pensamento positivo atrai coisas positivas,
pensamento negativo atrai coisas negativas. Sua colocação a respeito de saúde é
real e ocorre com frequência.
Afinal,
você me convenceu e pelo que tenho acompanhado tem convencido milhares de
leitores e ouvintes.
Se me permite, gostaria de fazer algumas sugestões:
a) divulgar mais os exemplares em: ●
sites, ● rádios, ● TVs, ● jornais, ● escolas, ● revistas especializadas, ●
associações, ● academias, ● sindicatos de escritores;
b)
programar matéria para o Correio Braziliense (há uma página em que os
repórteres contam a história de profissionais talentosos), talvez seria
conveniente contato prévio, por telefone;
c)
fazer palestras na rede pública (nível elementar, secundário e superior): a
direção escolar dá muito apoio a essas iniciativas. No Distrito Federal, a
maravilhosa Rádio Verde-Oliva, 98.7, faz algo semelhante, e com muito
brilhantismo.
Tendo
em vista a grandiosidade desta obra, que espero tenha o sucesso das anteriores,
e por reconhecer os méritos extraordinários de Juvenil Tomás, registro neste
prefácio as palavras do meu saudoso ex-professor de português há mais de 50
anos, desembargador Romeu Jobim *, ao disciplinar sobre o valor:
“Que
vem a ser um valor? Conforme já tive ocasião de acentuar, é, precisamente,
o que faz com que algo não nos seja indiferente. Inexiste, portanto, ser
natural, ou fruto da elaboração humana, despido de algum valor.
Se satisfaz a uma
necessidade de natureza econômica, como um saco de batatas, por exemplo, é útil.
Se consiste em um ato nobre, que pode servir de norma, na retribuição adequada
de um feito meritório, ou em um pôr de sol, uma flor, um quadro ou livro que
nos empolgue, diremos cuidar-se de ser com valor moral ou ético, justo
e belo ou estético, respectivamente. Tais valores (existem outros
mais) fazem com que os seres concretos ou abstratos a que aderem não nos sejam
indiferentes.
Sendo a província
em foco a das artes (por excelência, o produto de nosso fazer, o factibile)
– entre elas logo nos ocorrendo a dança, a música, a pintura, a literatura –, o
valor a cogitar-se terá a denominação de belo ou estético. Sem
este, a obra ou o fazer em questão é de todo indiferente e,
portanto, sem existência, enquanto arte. E quando um objeto (no caso da
literatura um texto) alcança o plano artístico? Diria, simplesmente, que quando
esplende. Sem esplendor não há obra de arte.
* Pioneiro de Brasília, professor, escritor, poeta, membro da Academia
Brasiliense de letras e de outras tantas entidades culturais, o qual, infelizmente,
nos deixou há pouco.
Deste modo, e
como, em arte literária, a elaboração se processa através do texto que, de consequência,
há de ostentar valor estético, afirmaria que o primeiro passo, para quem
pretende alcançá-lo, é o conhecimento do idioma de que se utiliza. Esse passo o
aluno já deu, faz tempo. Outro avanço, que também considero importante,
sobretudo no plano da ficção, em prosa ou poesia, reside em não escrever a
partir dos próprios sentimentos, enquanto tais. Entenda-se, porém, a colocação
que faço.
O que mais
interessa ao leitor talvez sejam os próprios sentimentos, dito de outro modo: a
paisagem que descortina de sua janela, a rua em que mora, a dor ou a alegria
que sente. Assim, se optamos por escrever sobre nossas particularidades, estaremos
agradando em cheio o leitor, mas só na medida em que elas, de tal forma
generalizadas, coincidam com as dele. Que exemplo melhor para enfatizar isso
senão o de Fernando Pessoa quando, naquele imortal poema, focaliza o rio de sua
aldeia?
Sucede que os valores são, de natureza, indemonstráveis.
Um teorema ou um ser de feição relacional podem e devem ser demonstrados.
Um valor, não. Pode, simplesmente, ser mostrado e, por isso, discutido.
Qualitativos, ademais, nada obstante bipolares (belo e feio), não
têm existência per se, só nos seres a que aderem e, ainda, sem dimensão quantitativa,
os valores são absolutos, daí a heresia de que variem com o tempo e a
época. Costumes e modismos é que, relativos, mudam. Valores, não.”
Neste mesmo
seguimento de reflexão, cito minha inesquecível professora de Filosofia no
curso Clássico de Ciências Sociais, Drª
Maria do Socorro Jordão Emerenciano, a qual, no seu primeiro dia de aula, nos
disse (jovens esperançosos de conseguir boas notas no vestibular):
─ Se estiverem
pensando que vim aqui para explicar como se obtém aprovação no exame para
ingresso em escola de nível superior, desistam; minha matéria não cai em nenhum
desses testes, no Brasil. O meu objetivo é instruir vocês como pensar e do
raciocínio fazer o uso devido; principalmente, para proporcionar o bem ao ser
humano e contribuir para o progresso da ciência.
E isso ela fez:
ensinou-nos a raciocinar e ter discernimento ante as dificuldades da vida.
Lembro-me de que na época éramos uns 40 alunos, do quais muitos se submeteram à
rigorosa triagem, que até hoje o é. Muitos obtiveram aprovação e garantiram o
ingresso em universidade. Todos com quem conversei tinham gratidão à professora
pelo ensinamento primoroso que lhes dedicava.
Assim, posso ─ com
felicidade e confiança no trabalho literário de Juvenil Tomás, ainda que
viajando pelo passado de mais de meio século, que me serve de apoio robusto ─
afirmar que seu futuro será grandioso; seus textos prometem muito, e a prova
maior é o sucesso presente que têm tido no meio acadêmico.
Às vezes,
encontramo-nos (nem sempre com muita constância, apesar de há anos trabalharmos
na mesma empresa) e pergunto-lhe: como
estão os livros, Juvenil? Ele, em
humildade característica dos bons profissionais e em demonstração de princípio
religioso, afirma:
─ Vão indo bem,
graças a Deus! Não me posso queixar.
Por tudo, desejo
ao meu querido companheiro das letras toda a plenitude e brilho nos projetos de
literatura, com a certeza de que Os
Diamantes Azuis - Volume I - Planeta Luz, 2ª edição, de agradável e estimulante leitura, alcançará vendagem
extraordinária no Brasil e no exterior.
Os leitores que
tiverem a felicidade de compulsá-lo poderão concluir que o enriquecimento
cultural advindo é nobre e que o autor palmilha a estrada do infinito ─
indecifrável e maravilhoso.
Feliz resultado,
digno Juvenil. O retorno do investimento virá sem que note. Desejo passar por
você daqui a alguns anos, indagar-lhe: como
estão os livros? e ter alegria de ouvir a notícia (já esperada):
─ A obra Os Diamantes Azuis (Livro I) Planeta Luz, 2ª
edição, seguidas tiragens experimentou, todas esgotadas.
Prossiga, pois,
garboso confrade ─ com altivez e dedicação ─ o caminho encantador da escrita e
faça dele, como tem feito, mais uma das maneiras louváveis de disseminar o bem
comum.
Ab
imo pectore.
Com o abraço e a
estima do
Benedito
OS DIAMANTES AZUIS
VOLUME I
PLANETA LUZ
VOLUME I
PLANETA LUZ
EPISÓDIO I
A
PRIMEIRA MISSÃO.
Tobias despertou e percebeu que, estranhamente, dormira sobre uma pedra, uma grande pedra preta que se destacava do solo, não era muito lisa, mas tinha uma bancada que se assemelhava a uma cama.
Apesar daquela estranha cama, sentia-se muito bem, descansado, como se
tivesse dormido confortavelmente por um bom tempo. Levantou-se e olhou em
volta, era um vale muito bonito, recoberto de capim verde, entremeado de
grandes e proeminentes pedras, não era grama, era uma espécie de pastagem para
animais, bastante regular com mais ou menos dez centímetros de altura, só era
mais alto em volta das pedras como se a emoldurá-las. Mais abaixo, após um
suave declive, corria um caudaloso rio.
Respirou fundo, sentiu o frescor da brisa
e da relva que o rodeava. O ar puro, fresco e aromatizado enchia e massageava
seus pulmões que se expandiam gostosamente, captando o oxigênio límpido e
alimentando suas células com aquele gás benfazejo. Um pequeno arbusto ao seu
lado o saudava com suaves movimentos de seus galhos. De algumas folhas pendiam
brilhantes gotas de orvalho que se tornavam pequeninos sois refletindo os matutinos
raios do astro rei.
Reconheceu parcialmente aquele lugar,
lembrava-se vagamente dele como um vale à beira de uma estrada que passava
muitas vezes quando era criança e era candieiro – o guia dos bois - do carro de
boi de seu pai.
Ops! Não tinha aquele rio ali, era apenas
um grotão, algo estava diferente.
Não se lembrava de como havia chegado ali.
Olhando para o lado mais alto, viu algo parecido com uma barraca de camping
bastante grande, de onde saíram duas pessoas ao seu encontro, ficou um pouco
assustado, pois se trajavam de modo estranho com vestes parecidas com soldados
do antigo Império Romano. Chegaram à pequena distância e ficaram parados,
Tobias perguntou:
— Que lugar é este? — Eles não
responderam, ele insistiu:
— Há quanto tempo estou dormindo sobre
esta pedra? — Um deles finalmente respondeu: — Vinte e dois anos.
— Vinte e dois anos? — Repetiu ele
incrédulo — Isto não pode ser! Ninguém dorme vinte e dois anos, muito menos
sobre uma pedra.
Eles nada responderam. Tobias sentiu um
calafrio e começou a perceber que algo muito diferente estava acontecendo,
sentindo um forte tremor nas pernas, sentou-se novamente na pedra e exclamou:
— Meu Deus! O que aconteceu? Que lugar é
este?
Reanimando-se do choque inicial
aproximou-se novamente dos dois, digamos...“soldados”, dizendo:
— Por favor, me digam que lugar é este? O
que estou fazendo aqui?
Eles responderam apenas: — Vá trabalhar.
Tobias estava muito confuso e perguntou:
— Trabalhar? Como? O que devo fazer?
Eles apenas repetiram: — Vá trabalhar.
Ele insistia e fez inúmeras perguntas, mas
os dois só respondiam aquilo — Vá trabalhar — Depois de algum tempo começaram a
irritar-se e o ameaçaram com uma chibata. Então se afastou dos dois, caminhando
em direção ao rio. Logo percebeu que próximo à margem havia mais pessoas,
estavam ocupadas cada uma fazendo alguma coisa, umas cortavam madeiras, outras
cavavam buracos. Ficou observando o que faziam e ficou ainda mais atordoado.
Um homem descia o pequeno rio montado
sobre um tronco de árvore, chegava a certa altura descia dele e subia o rio
arrastando o tronco com grande dificuldade, depois subia no tronco e descia
novamente até a mesma altura que descera antes e voltava a subir arrastando o
tronco. Vezes sem conta descia o rio, vezes sem conta o subia novamente, por
dias a fio, anos talvez.
Outro cavava um grande buraco e em seguida
cavava um segundo enchendo o primeiro com a terra deste. Parecia estar neste
ofício há bastante tempo, visto a quantidade de sinais que já deixara atrás de
si. Outro ainda; carregava um punhado de madeira de um lado para outro, onde
era temporariamente depositado, para logo a seguir ganhar terceiro destino, tão
impermanente quanto os anteriores. Todos trabalhavam, mas de uma forma
estranha, aparentemente sem objetivos, sem organização nenhuma.
Enquanto observava, os dois soldados se
aproximaram novamente e ordenaram rispidamente: — Vá trabalhar.
Por mais que insistisse em perguntar o que
deveria fazer, nada respondiam e se tornavam agressivos ameaçando-o.
Então apanhou um machado que estava
disponível, aproximou-se de um homem que cortava um tronco e perguntou: — Posso
te ajudar?
O homem respondeu: — Se quiser pode cortar
aí — Indicando onde ele deveria trabalhar. Tobias começou a cortar o tronco e
os dois guardas se afastaram. Então tentou conversar com o homem:
— Que lugar é este?
— Não sei.
— O que vocês estão fazendo?
— Também não sei, só mandaram trabalhar,
não explicaram nada, se alguém fica parado ameaçam castigar, se está fazendo
alguma coisa, seja lá o que for, nos deixam em paz.
— Há quanto tempo está aqui?
— Bastante tempo.
Tobias observou o comportamento dos
guardas e dos trabalhadores. Se alguém ficava parado era ameaçado e instigado a
trabalhar, porém não se dava nenhuma orientação nem exigência quanto ao
trabalho, podia-se fazer qualquer coisa, desde que estivesse em atividade.
Ao fim do dia acenderam uma pequena
fogueira ao centro do local onde estavam e adormeceram ali mesmo.
Tentou conversar com alguns que demoraram
um pouco mais a dormir, mas não obteve nenhuma informação importante, todos
estavam atordoados, não sabiam onde estavam, nem o que estavam fazendo. Já
haviam entendido apenas que deveriam estar em atividade, fazendo alguma coisa.
Entre tantas coisas estranhas e não
explicadas, estava o fato de não sentirem fome, lembrou-se que não comera nada
durante o dia, observou que alguns comeram algumas frutas, também não sentia
sono, porém deitou-se e ficou observando as estrelas e exclamou:
— Meu Deus! Alguma coisa muito forte,
muito significativa aconteceu, será que é o que estou pensando?
Depois de algum tempo, acabou adormecendo.
No dia seguinte resolveu começar nova
atividade, junto com novo parceiro, pegou uma escavadeira e começou a cavar um
buraco próximo ao homem que observara no dia anterior, tentando conversar com
ele:
— Qual é seu nome meu caro?
— Carlos.
— Você sabe que lugar é este? O que
estamos fazendo aqui?
Sem parar de cavar, Carlos respondeu:
— Não temos certeza de nada, ninguém
explica nada. Mas você já ouviu aquela expressão “passar desta para melhor”, “subir
para o andar de cima” ou algo parecido? Acho que foi o que aconteceu conosco,
meu caro.
Sentiu um grande tremor, suas pernas
fraquejaram, ele caiu de joelhos e começou a chorar. Já tivera aquele
pressentimento antes e agora era praticamente confirmado pela observação do
companheiro. Carlos o amparou dizendo:
— Calma! Não tenho certeza de nada.
— Mas eu acho que você está certo, isto
aqui é muito diferente de tudo que já vi. Nós não sentimos fome, já vi alguns
comendo frutas, mas parece ser mais por hábito.
— É verdade! Eu também como às vezes,
sinto o sabor, são muito boas, mas acho que se não comer também não me fará
falta.
Então mudou um pouco a conversa:
— Carlos, se realmente estamos em um novo
estágio da nossa vida e estamos aqui, deve haver algum propósito.
— É muito estranho, ninguém nos orienta,
já estou aqui há bastante tempo e outros há mais tempo ainda e não sabemos o
que fazer.
Durante o restante do dia ele pensou muito,
tentando entender o que estava acontecendo e, principalmente, no propósito
daquele grupo estar ali. Comeu algumas frutas, eram realmente muito saborosas.
À noite os guardas se afastavam e eles
ficavam mais à vontade, podiam conversar ou dormir se quisessem. Tobias se
aproximou daquele homem que vira descendo e subindo o rio diversas vezes, com o
tronco de madeira:
— Como é o seu nome?
— João.
Fez
todas as perguntas de praxe, João também nada sabia, mas não desconfiava que
pudesse ter morrido, achava que aquilo era uma prisão.
— Se isto é uma prisão, por que ninguém
tenta fugir?
João começou a chorar e falou com a voz
embargada:
— É horrível! - E por pouco não
conseguia prosseguir, Tobias aguardou um pouco e perguntou:
— O que é horrível? — João enxugando os
olhos prosseguiu:
— Eu já tentei fugir. Cara, é uma coisa
horrível, surge uma grande escuridão e um grande medo e sentimentos de horror
se apoderam da gente.
— Da gente? Havia muitos?
— Eu tentei sozinho, outros já tentaram em
grupos, todos dizem a mesma coisa.
Tobias ficou novamente sozinho. Andou pelo
acampamento observando. O acampamento era iluminado pela luz da pequena
fogueira e muitos dormiam em volta dela. Começou a distanciar-se da luz, não
tinha a intenção de fugir, mas apenas de verificar as informações de João. À
medida que avançava a escuridão se tornava mais intensa, a vegetação mais fechada
e agressiva com densos espinheiros. De súbito surge um grande temor de não
conseguir mais voltar, a fogueira parecia ter se distanciado repentinamente e
era um pequeno ponto de luz longínquo em meio a grande escuridão.
Tentando voltar, percebeu que estava
dentro de um espinheiro e a fugidia luz da pequena fogueira era de parca valia,
a escuridão era assombrosa. Começou a rezar fervorosamente e pensou: — Tenho
que me acalmar senão não consigo sair deste espinheiro — com muito cuidado e
movimentando-se aos poucos foi livrando-se do espinheiro esgueirando em direção
à fogueira. Ao retornar percebeu que estava com diversos arranhões e sentia
algum incômodo como se fosse dor, mas era uma dor diferente. Todos já dormiam,
ele deitou-se e ficou contemplando as estrelas, o céu estava limpo e lindamente
coroado de estrelas brilhantes. Procurando mais atenciosamente não conseguiu
identificar nenhuma das constelações conhecidas.
A noite foi longa, não conseguiu dormir,
pensou muito e tomou uma decisão, que poria em prática logo que amanhecesse.
O dia amanheceu nublado, mas as nuvens não
eram muito espessas, havia algumas fendas por onde entranhavam reluzentes raios
de sol que se estendiam longamente pelo horizonte, como se fossem os dedos de
Deus abraçando e aquecendo a terra.
Tobias aproximou-se de Carlos e disse:
— Carlos! Quero fazer algumas coisas e
preciso da sua ajuda.
— Minha ajuda? Nunca vi isto por aqui,
porém, desde que não me complique com os guardas, tudo bem.
— Não vai lhe complicar, você continuará
fazendo a mesma coisa, só que cavará os buracos nos lugares que eu indicar e os
deixará abertos.
— Tudo bem.
Tobias pegou uma vara de madeira mediu dez
palmos, o que dava aproximadamente dois metros, escolheu o primeiro ponto e
traçou uma linha imaginária perpendicular ao rio passando ligeiramente acima do
local da fogueira. Pediu a Carlos:
— Marque o primeiro ponto aqui. - Depois
caminhou pela linha imaginária medindo 20 metros e pediu que marcasse o segundo
ponto. Voltando pela linha marcou um ponto a cada 2 metros perfeitamente
alinhados entre o dois pontos extremos, então disse a Carlos:
— Para cada sinal que marcamos, preciso
que você cave um buraco de aproximadamente um metro de profundidade por
quarenta centímetros de largura.
Carlos procurou com os olhos identificar os
guardas que permaneciam a certa distância sem interferir e respondeu:
— Se aqueles lá não me perturbarem; tudo
bem.
— Também não tenho certeza, comece e vamos
ver o que acontece. Monte uma pequena equipe e faça dez linhas de buracos
iguais a essa.
Desceu ao rio e procurou João:
— João! Notei que você gosta de trabalhar
com madeira e está há muito tempo transportando este tronco. Preciso de sua
ajuda para fazer um trabalho um pouco diferente.
— Que trabalho é este?
— É o seguinte: você deverá convidar mais
dez pessoas, subirem um pouco mais pela margem do rio até a floresta,
selecionar árvores de porte médio, com troncos de aproximadamente quarenta
centímetros de diâmetro, cortá-los com altura de quatro metros, descer pelo rio
e arrastá-los até próximo ao local da fogueira.
— De quantos troncos você precisa?
De pronto fez algumas contas mentais: - São cem só para os esteios,
depois o piso e as paredes - e respondeu:
— Aproximadamente mil troncos.
— É muita madeira! Para que tudo isso?
— Precisamos construir algo.
— Apenas dez pessoas para fazer tudo isso,
levaremos um bom tempo.
— Você tem algum outro compromisso
agendado? — Perguntou sorrindo.
— Nenhum! — Respondeu João, já se
afastando em direção a um pequeno grupo de pessoas que se aproximava do rio.
Ao retornar do rio, absorto em seus
pensamentos, pensando no próximo grupo que deveria convidar, encontrou os dois
guardas plantados bem a sua frente. Ergueu os olhos, os dois o olhavam com cara
de poucos amigos. Um deles disse:
— Você precisa trabalhar.
— Mas é exatamente o que estou fazendo.
— Não brinque comigo, não vejo você
cavando ou cortando nada.
— Não estou brincando meu caro, estou
organizando algumas coisas, isto se chama administração e é um trabalho.
O guarda meneou a cabeça em sinal de
discordância e ia dizer algo, mas o outro o interrompeu:
— Espere talvez ele tenha razão. As ordens
são para que eles estejam em atividade e ele está em atividade.
— Mas acho que isto não é um trabalho —
insistiu o primeiro.
— Cuidado, posso processá-lo junto ao
Conselho de Administração.
Os dois ficaram confusos, o segundo decidiu:
— Vamos conversar com o Arcanjo — E
afastaram-se rapidamente.
— Arcanjo? — Sentiu novamente um tremor e
ficou por alguns segundos meio desnorteado. Depois respirou fundo e disse para
si mesmo:
— Bem! Vamos em frente.
Tentando superar o turbilhão mental que
quase o paralisa, começou a correr ladeira acima. Mais uma surpresa! A cada
passo mais forte que dava, seu corpo subia quase volitando no ar e demorando
bem mais que o normal para voltar novamente ao chão. Lembrou-se do andar dos
astronautas na lua, com pouca gravidade eles brincavam andando em grandes
passos ou mesmo em saltos. Suspirou e pensou: - Novidades, novidades e mais
novidades.
Subiu, correndo, a pequena ladeira até
próximo à fogueira e procurou Manoel, aquele homem que gostava de cortar
madeira e ainda arfante, mais pela emoção que pelo cansaço, falou:
— Manoel! Gostaria de ajudar-me a fazer um
trabalho?
— Que trabalho é esse?
— Ao invés de ficar cortando madeira
desorganizadamente, quero que você faça algo organizado. A equipe do João trará
os troncos, reúna você também uma equipe, separe 100 troncos que ficarão
inteiros e servirão como esteios, os demais vocês abrirão ao meio, alisando-os
o melhor possível, para que pareçam tábuas. Pode fazer isto?
— Claro que sim, mas por quê?
— Precisamos fazer algo, você entenderá
depois.
— Tudo bem. — Respondeu Manoel.
Por vários dias seguidos Tobias organizou
várias equipes, encarregadas de diversas tarefas. Àquelas três já formadas,
juntaram-se várias outras e o projeto começou a tomar forma.
A princípio os trabalhadores não entendiam
muito bem o que estava acontecendo e não davam muita importância àquelas atividades,
trabalhando ainda apáticos como antes. Mas à medida que as equipes foram se
entrosando e criando padrões de trabalho organizado e cooperativo, muitos foram
se animando e trabalhavam mais felizes e até alguns sorrisos e risos, bem raros
anteriormente, começaram a ser vistos e ouvidos naquele vale.
Além do trabalho em si, organizou algumas
outras atividades, tais como o momento próximo ao meio dia, quando todos se
reuniam para uma pequena confraternização, alimentavam-se com frutas,
conversavam e ele explicava o que estavam fazendo. Outra atividade que trouxe
bastante aproximação e conforto entre eles foi o momento de oração e meditação,
à noite. Todos eram convidados, mas logicamente não era obrigatória a
participação, alguns não tinham o hábito de rezar e, a princípio não se sentiam
muito confortáveis, mas aos poucos foram adaptando-se e integrando-se mais ao
grupo.
Alguns meses depois.
Os dois guardas saíram da cabana, logo pela
manhã e caminhavam descontraídos em direção ao local que iam diariamente e
ficavam observando os trabalhadores, de repente levaram um grande susto.
Enfileirados à sua frente estavam todos os trabalhadores parados.
— O que está acontecendo? Por que estão
parados? Vão trabalhar!
Tobias se adiantou um pouco dos demais e
disse:
— Não vamos mais.
Os dois se assustaram mais ainda. Um deles
disse afobadamente:
— Serão chicoteados!
— Todos nós? — Perguntou, apontando as
centenas de trabalhadores.
Percebendo a perplexidade dos guardas, os
tranquilizou:
— Não se preocupem, está pronto.
— Pronto? O que é que está pronto?
Percebendo que era uma situação inusitada,
para a qual não estavam preparados para lidar, o segundo guarda puxou o
primeiro e disse:
— Vamos chamar o Arcanjo — E saíram
apressadamente em direção à grande barraca.
De onde estavam viam apenas a lateral da
barraca. Viam apenas os vultos em seu interior e perceberam que houve uma
grande agitação, alguém se vestia e colocava complementos apressadamente.
Logo saíram da barraca, só que
desta vez os dois já conhecidos eram acompanhados de um terceiro, que parecia
ser o chefe deles. Vestia uma armadura semelhante a dos dois, só que mais
requintada e brilhante, um grande capacete e uma grande espada.
Dirigiu-se energicamente a Tobias, que
permanecia à frente dos demais trabalhadores:
— O que está acontecendo aqui? Por que
estão parados?
Tobias dirigiu-se a ele respeitosamente:
— Está pronto senhor!
— Pronto? O que é que está pronto?
Ele indicou com a mão direita:
— Veja o senhor mesmo — Passando
apressadamente entre os trabalhadores, logo o chefe dos guardas parou admirado,
via uma linda cabana construída de madeira. Andou em volta dela e observou os
detalhes. Foi construído um piso elevado, com os troncos abertos e alisados,
formando um belo piso de madeira, as paredes foram construídas da mesma forma,
a cobertura foi feita com folhas de palmeiras cuidadosamente amarradas.
O chefe da guarda retirou do bolso algo
que parecia uma agenda e começou a consultar, em seguida tirou seu capacete,
jogou de lado e disse:
— Não estava previsto para acontecer
agora! Mas realmente — elevando bastante a voz gritou:
— ESTÁ PRONTO!
Ao ouvirem o grito, os trabalhadores foram
tomados de grande alegria, começaram a gritar e comemorar, abraçavam-se e se
cumprimentavam. Alguns pareciam estar mais conscientes do ocorrido, outros não
entendiam, mas acabavam deixando-se levar pela energia e espírito de felicidade
dos outros.
Enquanto os trabalhadores comemoravam os
guardas foram retirando suas armaduras e deixando conhecer sua verdadeira
identidade. Quando tiraram as armaduras, tornaram-se translúcidos, brilhantes e
luminosos como algo celestial. Agora não havia mais dúvidas, eram três anjos.
Os trabalhadores se reuniram em volta deles
e se ajoelharam rezaram e pediram que explicassem o que estava acontecendo. O
arcanjo explicou:
— Este é um lugar de purificação. Vocês
todos são vitoriosos, foram agraciados com a possibilidade de caminhar para o
Paraíso, porém ainda não estão prontos para Ele e devem cumprir algumas
missões, acostumarem-se com novas realidades, antes de poderem ser encaminhados
ao Paraíso.
Os trabalhadores comemoraram novamente. Um
deles perguntou:
— Senhor o que faremos agora?
— A
tarefa de vocês era trabalhar organizadamente fazer algo de útil, poderia ser
qualquer coisa: um barco, uma ponte sobre o rio, etc. Fizeram uma casa, ficou
muito bonita e eu considerei a missão cumprida. Terminaram bem antes do prazo
estipulado, vocês ainda teriam vinte e dois anos para concluir. Portanto nestes
vinte e dois anos vocês podem escolher: voltar a dormir ou cumprir outras
missões.
Quase todos responderam:
— Queremos outras missões — E alguém
comentou:
— Com a experiência que adquirimos aqui,
será mais fácil cumprir as próximas.
O arcanjo voltou a explicar:
— Não encontrarão os mesmos desafios, cada
um é diferente e para homogeneizar os conhecimentos vocês não se lembrarão que
estiveram aqui. Estarão juntos com pessoas diferentes, que vieram de diversos
lugares e diversas fases de purificação, mas pensarão que é a primeira missão e
todos serão iguais enquanto trabalham.
Outro trabalhador questionou:
— Assim perdemos tempo, tendo que começar
sempre de novo, se levássemos a experiência, poderíamos concluir os trabalhos
em menos tempo — O Arcanjo respondeu:
— Outra coisa que aprenderão é que o tempo
aqui não é contado como conhecem e não é o mais importante, o mais importante é
a evolução.
Outro ainda perguntou:
— Então para onde iremos agora?
— Isto eu não sei, meu trabalho com vocês
termina aqui, mas vocês poderão subir esta montanha e descobrirão. Se quiserem
poderão descansar na casa de vocês por algum tempo, depois partem. Mas antes de
partir tenho ainda uma surpresa para vocês, como eu disse antes, em um grupo
como este há pessoas com diversos níveis de purificação e há alguns entre vocês
que concluíram, com esta missão, a sua purificação e seguirão comigo para o
Paraíso.
Houve uma grande comoção entre os
trabalhadores e uma grande curiosidade para saber quem eram.
— Isto nem eu sei ainda, somente a Deus é
conhecido. Precisamos de um momento de muita concentração e oração agora, peço
que todos se ajoelhem e vamos orar fervorosamente a Deus, para que Ele nos
indique os purificados. Ajoelharam-se e o Arcanjo rezou:
— Deus pai todo poderoso criador do Céu e
da Terra, nós vos oferecemos, neste momento, este nosso trabalho, que ele seja
aceito por Vós como prova de nossa dedicação e amor na construção do nosso
caminho para a Glória eterna. E, se é de vosso agrado que alguns dos fiéis que
ora terminam este trabalho sejam conduzidos a Vossa presença, que nos indique
seus escolhidos.
Houve um grande silêncio e todos permaneciam
em oração profundamente concentrados. Depois de alguns minutos começou a
ouvirem-se alguns soluços entre os trabalhadores, como alguém que começasse a
chorar. Dentre os trabalhadores alguns começaram a transfigurar-se, eram seis
no total, suas vestes ficaram alvas e eles brilhavam, então houve uma grande
comoção e todos queriam abraçá-los.
Depois de muita comemoração e
cumprimentos, os seis foram carregados até a presença dos anjos, que também os
abraçaram e disseram:
— Bem-vindos benditos filhos de Deus para
o Paraíso que foi preparado para vocês.
Então os nove, dando adeus aos demais
trabalhadores se retiraram abraçados.
Houve certa desolação entre os que ficaram,
foi muita emoção naquela manhã. Combinaram que descansariam por alguns dias e
depois também partiriam.
Algumas semanas depois alguns acharam que
já era hora de partir, reuniram um pequeno grupo, entre eles estava Tobias. No
dia combinado para partir, ele acordou bem cedo para participar da última
alvorada naquele vale, ainda no lusco-fusco da madrugada. Observava tudo, o
frio e brilhante orvalho que cobria a relva e os arbustos, a bruma fumegante
que subia do rio e envolvia as árvores e a cabana formando um ambiente tão
fantástico que fustigava sua alma com sentimentos tão agudos que transcendiam a
razão, não lhe era possível identificar sua natureza. Ajoelhou-se, molhou as
mãos no fresco orvalho e levou ao rosto, amalgamando aquela água límpida e
divina com suas humanas e latejantes lágrimas que brotavam abundantes.
Depois daquele momento de contemplação e
adoração, reuniu seu grupo e começaram a subir a montanha, do alto dela
avistaram dois enormes vales e muitas comunidades cada uma com uma incumbência
a cumprir.
Caminharam um pouco mais e encontraram uma
linha de trem de ferro, seguindo a linha, pouco mais à frente chegaram uma
pequena estação; aguardaram nela por algum tempo e logo viram um trem
aproximando-se e parando suavemente à frente deles. Embarcaram e o trem partiu,
movia-se com tanta suavidade que parecia flutuar. Um intenso sono apoderou-se
deles e em pouco tempo todos adormeceram.
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